Mostrando postagens com marcador justificação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador justificação. Mostrar todas as postagens

O CRENTE DEVE PEDIR PERDÃO POR SEUS PECADOS?


Camilla Ferraz

Uma pergunta muito frequente é: “O que acontece se eu pecar e então morrer antes de ter uma oportunidade de confessar o meu pecado a Deus?”.

Outra pergunta comum é: “O que acontece se eu cometer um pecado, e esquecer que o cometi, e nunca me lembrar de confessá-lo a Deus?”.

Ambas as perguntas se baseiam em uma suposição errada. Salvação não é uma questão dos crentes tentando confessar e se arrepender de todos os pecados que cometem antes de morrerem. Salvação não é baseada em se o Cristão confessou e se arrependeu de todos os seus pecados. Sim, devemos confessar os nossos pecados a Deus assim que ficarmos cientes de que pecamos. No entanto, não precisamos ficar pedindo perdão o tempo todo. A salvação se fundamenta na fé do crente, e não em suas obras.

A EXPIAÇÃO DOS PECADOS

Cristo na cruz expiou os pecados de todos os homens. Portanto, os pecados que faziam a separação entre Deus e os homens foram expiados na cruz. Por isso o apóstolo João diz:

Ele tornou possível a nossa relação com Deus, pois que por Ele foram expiados não só os nossos pecados, mas os de todo o mundo. - 1 João 2:2

Paulo também nos ensina que Deus aplicou a Cristo a penalidade dos pecados dos homens, imputando a Cristo a pena que deveria ser imputada aos homens.

Porque Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo mesmo, não mais considerando os pecados dos homens como razão de acusação contra eles. Eis, pois a mensagem que pregamos. - 2 Coríntios 5:19

A expiação é quanto à penalidade do pecado, do qual todos os homens estão livres, pois Cristo os tomou sobre Si em substituição aos homens. Essa penalidade é aquela que foi pregada pelo profeta Isaias:

Agora escutem! O Senhor não é nenhum ser fraco que não possa salvar-nos; nem tão pouco se está a tornar surdo! Ele ouve perfeitamente quando clamam a ele!
Mas o problema é que os vossos pecados vos separam de Deus. Por causa do pecado ele virou-vos a cara e já não vos ouve mais. - Isaías 59:1,2

Assim, quando um pecador clamava, Deus não os ouvia porque um Deus Santíssimo não pode se envolver com o profano. Por esta razão o povo de Israel tinha que se purificar todo ano, sacrificando animais, porque quase todas as coisas, segundo a lei, se purificavam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão de pecados (Hebreus 9:22).

Essa mesma condição foi imposta a Cristo quando na cruz Ele tomou sobre Si todos os pecados da humanidade. Jesus, com os nossos pecados sobre Si, se viu separado de Deus e bradou muito alto: 

Eli, Eli, lema sabactaní?, Que quer dizer Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? - Marcos 15:34

Portanto, a penalidade que era a separação de Deus, e que impedia o homem de ter suas orações respondidas por Deus, foi removida por Cristo na cruz.

Agora podemos entender que Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo mesmo, não mais considerando os pecados dos homens como razão de acusação contra eles porque Cristo experimentou a separação em lugar dos homens. Com isso Ele tornou possível a nossa relação com Deus, porque por Ele foram expiados não só os nossos pecados, mas os de todo o mundo.

É por isso que Cristo é o mediador de um novo pacto; porque tendo morrido para libertar as pessoas da culpa dos pecados, até os cometidos sob a primeira aliança, faz agora com que todos aqueles que são chamados possam entrar na posse dos bens eternos que lhes foram prometidos. - Hebreus 9:15

Assim podemos entender melhor o que Cristo fez na cruz, e também podemos entender o motivo pelo qual Deus não mais se lembrará de nossos pecados. 

É evidente que pecados que já tenham sido perdoados, não há mais necessidade de fazer sacrifícios para apagá-los. Assim, meus irmãos, devido ao sangue de Jesus podemos entrar, com ousadia, no lugar santíssimo. Este é o caminho novo e cheio de vida que Cristo nos abriu ao rasgar a cortina de separação, por meio da sua morte por nós. - Hebreus 10:18-20

Mas, assim como é evidente que pecados que já tenham sido perdoados, não há mais necessidade de fazer sacrifícios para apagá-los, também não devemos pedir perdão por pecados já perdoados. Lembrando que Cristo rasgou o véu da separação entre Deus e os homens, por meio da sua morte expiatória por nós. 

A JUSTIFICAÇÃO DOS PECADORES

Por Cristo foram expiados não só os nossos pecados, mas os pecados de todo o mundo. Portanto, quando colocamos nossa fé em Jesus Cristo para salvação, todos os nossos pecados já estavam perdoados desde a cruz, e isso inclui pecados do passado, do presente, do futuro, grandes e pequenos.

Quando colocamos nossa fé em Jesus Cristo para salvação, somos justificados por Deus. A justificação é um ato judicial de Deus, no qual ele declara, com base na justiça de Cristo, que todas as reivindicações são satisfeitas com vista ao pecador.

A justificação é o ato judicial através do qual Deus soberanamente decreta a absolvição do pecador, e o declara justo (Atos 13:39). A justificação veio como um ato da graça e do amor de Deus por causa da ofensa do homem (Romanos 5:18).

A justificação é um ato de misericórdia de Deus que não merecemos. Perdoar significa esquecer os pecados. Justificar é declarar o pecador como se nunca houvesse cometido pecados. O fundamento da justificação é a obediência e morte redentora de Cristo, assim como sua ressurreição.

Assim podemos entender as palavras de Paulo quando diz: 

Sendo, pois, declarados justos pela fé, temos paz com Deus, devido ao que nosso Senhor Jesus Cristo fez por nós. Pois em razão da nossa fé, temos direito a esta graça, e em confiança nos regozijamos pelo dia em que partilhamos da glória de Deus. Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.
E visto que pelo sangue de Cristo Deus nos tornou retos aos seus olhos, quanto mais não fará ele agora em nosso favor, salvando-nos do julgamento divino que há de vir. E se, quando éramos inimigos de Deus, fomos trazidos em paz para junto dele pela morte de seu Filho, quanto mais, tendo sido reconciliados com Deus, seremos salvos de castigo eterno pela sua vida. - Romanos 5:1,8-10

Assim, a expiação é universal, ou seja, alcançou a todos os pecados de todos os homens de todos os tempos. Já a justificação é obtida mediante a fé em Jesus e no seu Evangelho, sendo, portanto limitada aos que creem.

Ao contrário da expiação, a justificação não tem efeito sobre os pecados, mas sim sobre o pecador. Assim, todos os pecados foram expiados na cruz, e o pecador é justificado somente mediante a fé em Jesus. E não poderia ser de outro modo porque é evidente que pecados que já tenham sido expiados na cruz, não podem mais ser justificados.

A expiação é apenas sobre os pecados para remover a separação que o pecado fazia entre Deus e os homens, enquanto a justificação é sobre o pecador que crê em Cristo para que, pelo sangue de Cristo, Deus o torne reto e justo aos seus olhos, para salvá-lo do julgamento divino que há de vir trazendo o castigo eterno.

A expiação não livra o homem da acusação do diabo. Já a justificação faz com que ninguém acuse aqueles a quem Deus justificou. 

Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. - Romanos 8:33

Cristãos não têm que ficar pedindo por perdão ou se arrependendo para ter os seus pecados perdoados. Jesus morreu para pagar pela penalidade de todos os nossos pecados, e quando são perdoados, estão todos definitivamente perdoados (Colossenses 1:14; Atos 10:43).

A CONFISSÃO DOS PECADOS

O que devemos fazer é confessar nossos pecados: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.”

Por favor, note que essa passagem não menciona pedir perdão a Deus pelos pecados.

Em nenhum lugar, depois da cruz, as Escrituras ensinam que os crentes em Jesus devam pedir perdão a Deus pelos pecados cometidos. O que 1 João 1:9 nos diz para fazer é “confessar” nossos pecados a Deus.

A palavra “confessar” significa “concordar com”. Quando confessamos nossos pecados a Deus, estamos concordando com Deus que estamos errados, que temos pecado.

1 João 1:9, no entanto, aparenta indicar que de alguma forma perdão depende da nossa confissão de nossos pecados a Deus. Como é que isso funciona se todos os nossos pecados já foram perdoados na cruz, e o pecador foi justificado no instante em que recebeu a Cristo como Salvador?

Parece ser o caso que o Apóstolo João está descrevendo aqui perdão “relacional”. Todos os nossos pecados são perdoados “posicionalmente”. O perdão “posicional” é o que garante nossa salvação e promete um lar eterno no Céu. Quando estivermos diante de Deus depois da morte, Deus não vai negar nossa entrada no céu por causa de nossos pecados. Isso é perdão “posicional”. O conceito de perdão “relacional” é baseado no fato de que quando pecamos, ofendemos a Deus e entristecemos o Espírito Santo (Efésios 4:30).

Embora Deus tenha perdoado todos os pecados que cometemos, eles ainda resultam em um bloqueio ao nosso relacionamento com Deus. Um filho adolescente que peca contra o seu pai não é expulso de sua família. Um pai devoto vai perdoar seus filhos incondicionalmente. Ao mesmo tempo, um bom relacionamento entre pai e filho não pode ser alcançado até que esse relacionamento seja restaurado. Isso só pode acontecer quando o filho confessa seus erros ao pai. Por isso que confessamos nossos pecados a Deus, e não para manter nossa salvação, mas para nos trazer de volta a um relacionamento íntimo com o Deus que nos ama e já nos perdoou.

Deus nos perdoa através da nossa confissão de uma forma contínua, por causa do fato de que Ele é “fiel e justo”. Como é que Deus é “fiel e justo”? Ele é fiel por ouvir a nossa confissão provando que os nossos pecados não fazem mais separação entre o pecador e o Deus Santo. Ele é justo por aplicar o pagamento de Cristo aos nossos pecados, reconhecendo que os pecados têm, na verdade, sido expiados na cruz.

EM ADÃO TODOS MORREM

Embora todos os pecados tenham sido expiados na cruz, todos morrem porque o salário do pecado é a morte. E mesmo aqueles que foram justificados mediante a fé também morrem. Por quê?

A morte não é consequência dos pecados que cometemos. A morte é uma sentença ao pecado que Adão cometeu.

Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram. – Romanos 5:12.

Cremos que a Bíblia ensina que, pecando Adão, todo o gênero humano pecou nele. Ele era o cabeça natural e federal de toda a raça humana. Trazia em si o germe de toda a humanidade. Hereditariedade e atavismo confirmam plenamente o ensino das Escrituras a este respeito.

Desde Adão até os dias de Moisés, ninguém foi julgado culpado pelos próprios pecados, pois a lei não tinha ainda sido promulgada. No entanto, todas as pessoas que viveram no período compreendido entre a época de Adão e os dias de Moisés, morreram. Portanto, suas mortes não podem ser atribuídas diretamente aos seus pecados, pois não havia nenhuma lei para estabelecer esta sentença, porque onde não há lei o pecado não é levado em conta. - Romanos 5:13

Adão não foi somente o pai da humanidade ele foi também seu representante e cabeça federal.

Assim, as mortes nesse período foram causadas pelo pecado de Adão. Toda a humanidade estava potencialmente em Adão quando ele desobedeceu a Deus, embora não estivesse individualmente, pois a posteridade ainda não havia surgido. Então, a penalidade daquele pecado de Adão atingiu toda a humanidade (porque somos membros da raça adâmica, descendentes de Adão), pois dizia que o homem voltaria ao pó, ou seja, provaria a morte física.

Porque antes da lei já estava o pecado no mundo, mas onde não há lei o pecado não é levado em conta. No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão... pela ofensa de um só, a morte veio a reinar... pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos pecadores. - Romanos 5:13,14,17,19

Por isso a Bíblia diz que em Adão todos morrem (1ª Coríntios 15:22), porque pelo pecado de Adão toda a sua posteridade foi atingida. E o pecado veio só por Adão que pecou, mas a sentença veio, na verdade, do pecado de Adão sobre toda a sua posteridade, pois pelo pecado de Adão, a morte veio a reinar sobre todos os homens, até mesmo sobre aqueles que não pecaram a semelhança de Adão. Portanto, pelo pecado de Adão veio o juízo sobre todos os homens para condenação da morte física, porque todos se tornaram pecadores (Romanos 5:15-19).

Todos os homens nascem já pecadores por causa do pecado de Adão. Independentemente de qualquer ato de pecado. A humanidade não herdou o pecado de Adão, assim como sua natureza pecaminosa. Toda humanidade pecou por meio de Adão, por isso em Adão todos morrem, e a morte é consequência deste pecado.

Por um homem veio a morte... em Adão todos morrem. - 1ª Coríntios 15:21,22

Mesmo que nunca tivéssemos cometido pecado, ainda assim seríamos pecadores, pois pelo pecado de Adão, o juízo veio sobre todos os homens.

Pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores. -Romanos 5:19

Já vimos que quando Adão pecou, toda a sua posteridade estava substancialmente em sua carne.

A semente da humanidade da qual viemos estava substancialmente em Adão desde o começo. Assim, quando Adão pecou todos os homens se tornaram pecadores.

Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concedeu minha mãe. - Salmos 51:5

Os homens nascem pecadores porque estavam em Adão, o cabeça federal.

Até mesmo as crianças de colo e os natimortos provam a morte física porque pecaram em Adão, pois ele era o cabeça natural da humanidade como seu progenitor, mas também era o cabeça federal da humanidade porque a representava, e enfrentou a tentação tanto por si mesmo como pelos seus descendentes, mas caiu, levando à queda toda a sua posteridade.

A humanidade caiu em Adão porque estava substancialmente nele. Este mesmo conceito se encontra registrado em Hebreus 7:9,10, onde se diz que Levi, por meio de Abraão, pagou o dizimo a Melquisedeque, porquanto Levi estava ainda nos lombos de seu pai quando Melquisedeque saiu ao encontro deste. Ou seja, Levi ainda nem existia individualmente como pessoa, mas estava substancialmente em Abraão, quando este pagou o dizimo a Melquisedeque. Levi é descendente do patriarca Abraão, que é o cabeça federal de Israel.

A humanidade caiu em Adão porque estava substancialmente nele, embora não estivesse individualmente, pois a posteridade ainda não havia surgido. Portanto, assim como Levi pagou o dízimo a Melquisedeque por meio de Abraão, toda a humanidade pecou por meio de Adão e caiu com ele em seu primeiro pecado.

Quando Adão foi estabelecido no Éden como um ser responsável diante de Deus, ele estava ali como cabeça federal, como representante legal de sua posteridade. Portanto, quando Adão pecou todos os seres humanos pecaram. Quando Adão morreu todos os seres humanos morreram (em Adão todos morrem).

O fato que todos comem do suor das suas faces; sofrem doenças e tristezas; e voltem ao pó do que são feitos é suficiente deduzir que Adão é nosso cabeça federal (Gênesis 3.17-19; Romanos 5.12, 19). Todos foram incluídos na primeira condição de não comer o fruto como todos são participantes da maldição que veio pelo ato de Adão comê-lo. A humanidade era tão unida a Adão que todos ficaram retos enquanto ele continuou assim, e caíram nele quando ele caiu.

Adão não pecou meramente por nós; mas nós pecamos nele.

CONCLUSÃO

Quando se vai estudar a Bíblia deve-se separar as alianças. A Nova Aliança em que estamos inseridos teve início com o derramamento de sangue e morte do Testador.

Quando alguém deixa um testamento, só depois de essa pessoa ter efetivamente morrido é que esse testamento é válido. Só depois da sua morte, e não durante o tempo de vida, é que o testamento tem validade. - Hebreus 9:16,17.

Com isso eu quero mostrar que a Nova Aliança somente entrou em vigor com a morte de Cristo, e assim tudo o que ocorreu antes da crucificação de Jesus integra a Velha Aliança, mesmo que esteja nos livros de Mateus, Marcos, Lucas e João.

Veja que o próprio Cristo ratifica isso ao dizer:

Porque isto é o meu sangue, O sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. - Mateus 26:28

Depois da morte de Jesus, ou seja, quando o Novo Testamento começou a vigorar, não há um texto sequer que nos ensine ou ordene a pedir perdão a Deus pelos pecados. Foram escritos 23 livros, e nenhuma palavra acerca de pedir perdão por pecados cometidos. Por quê isso?

Porque haveria uma contradição na Palavra de Deus. Se Deus afirma categoricamente que nos justificou, como Ele poderia exigir que nós pedíssemos perdão por pecados pelos quais estamos já justificados?

Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo justo justificará a muitos, e as iniquidades deles levará sobre si. – Isaías 53:11

A Bíblia ensina que qualquer pessoa que crê simples e verdadeiramente em Jesus Cristo como seu Salvador pessoal que o livra do pecado, nesse momento é irrevogável e eternamente justificada. A justificação é o ato de Deus por meio do qual Ele não somente perdoa o pecado dos crentes, mas também os declara perfeitamente justos por meio da imputação da obediência e da Justiça do próprio Cristo sobre eles, mediante a fé.

Na justificação, Deus “deposita” a Justiça de Cristo na conta do crente. Ele atribui ao cristão a perfeição moral de Seu próprio Filho.

Na justificação Deus não ignora a nossa culpa, mas, através de sua Justiça, julga e condena o pecador a morte de cruz. No entanto, a justiça de Cristo nos é imputada pela fé no Filho de Deus (Filipenses 3:9).

A palavra grega dikaiosunh traduzida como justificação significa restituir à inocência original; tornar justo.

Portanto, todos os pecados foram expiados por Cristo na cruz. E esta expiação removeu a separação entre Deus e os homens causada pelos pecados.

Os pecadores que colocam sua fé em Jesus são justificados. E esta justificação os salva da ira divina que há de vir trazendo o castigo eterno sobre aqueles que não foram justificados por causa da incredulidade.

Não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? - 1 Coríntios 6:9



A MISERICÓRDIA TRIUNFA SOBRE O JUÍZO

“Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.” Tiago 2:13

  I.    UM PASTOR MISERICORDIOSO

No fim do ano de 1988, eu cursava o segundo ano do segundo grau (atual ensino médio), e fui comunicado que a avaliação final de Educação Física consistiria de uma dança de candomblé vestido a caráter. A direção da escola informou que somente os evangélicos seriam liberados da dança mediante a apresentação do cartão de membro ou de uma declaração de uma igreja evangélica confirmando a filiação do aluno.

Eu, embora fosse nascido e criado numa Assembleia de Deus, eu não era membro de igreja alguma, e nem mesmo era batizado. Mas, não dançaria e nem me vestiria com aqueles trajes de modo algum.

Conversei com a minha mãe acerca da avaliação final de Educação Física, e decidimos conversar com o pastor da igreja dela, onde eu havia sido criado, e onde eu não frequentava, e nem mesmo visitava, desde 1982 quando ainda era uma criança.

Eu pedi ao pastor que emitisse uma declaração em papel timbrado da igreja, assinada, carimbada e com data atual confirmando a minha filiação ao rol de membro daquela igreja já há algum tempo, com o objetivo de ludibriar a escola e não participar daquele ritual de candomblé.

Na verdade, eu pedi ao pastor para mentir confirmando que eu iria ludibriar a escola com aquela mentira.

Bem, o pastor Antônio era um homem sério e tremendamente rígido, integro e temente a Deus. Era um homem zeloso com as coisas da igreja.

O pastor Antônio sempre morou na mesma casa numa favela em Rocha Miranda, subúrbio do Rio de Janeiro. Até aos 70 anos de idade, ele usava uma bicicleta velha como meio de transporte para ir à igreja em outro bairro. Apesar de ter cinco filhos, nenhum deles era de sua igreja, e nem mesmo sua esposa, que é da Igreja Batista junto com três filhas .

Ao completar 70 anos, a igreja matriz o convenceu a receber um carro popular para o seu deslocamento até a igreja. Mas, mesmo com a idade bem avançada, este pastor continuou a subir no telhado para tocar pessoalmente as obras e os reparos no prédio da igreja, que ele pessoalmente construiu.

Este pastor quando jovem sobreviveu a atropelamento por trem. Com o avançar da idade e com câncer de próstata ia ministrar o culto muitas vezes usando fralda geriátrica. O pastor Antonio pediu a Deus para morrer na igreja trabalhando na obra do Senhor.

Então, este pastor temente a Deus respondeu ao meu pedido de forma positiva, dizendo: “Eu não terei a menor dificuldade em te dar esta declaração, porque eu sirvo em novidade de espírito que ama, e não na velhice da letra fria da Lei que condena.”

II.    O CUMPRIMENTO DA LEI E A NECESSIDADE HUMANA

“E aconteceu que, no segundo sábado após o primeiro, passou pelas searas, e os seus discípulos iam arrancando espigas e, esfregando-as com as mãos, as comiam. E alguns dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que não é lícito fazer nos sábados?” Lucas 6:1,2

Os fariseus acusaram aos discípulos de Jesus de praticarem o que não é lícito fazer num sábado (Mateus 12:2). E obviamente eles também acusavam a Jesus de acobertar tal ilicitude.

Os fariseus não objetaram à apropriação das espigas, pois a Lei o permitia (Deuteronômio 23:24,25). Eles, no seu zelo de guardar a letra da Lei nos mínimos detalhes, estavam criticando o trabalho manual de colher espigas realizado num sábado, como sendo uma violação de Êxodo 20:10.

Portanto, a interpretação restrita da Lei encarava o apanhar e debulhar de espigas como trabalho, o qual não era permitido aos sábados.

Jesus respondeu a acusação dos fariseus com os três argumentos a seguir:

1- Jesus cita Davi e os pães da proposição (I Samuel 21:1-6). Embora a Lei divina restringisse os pães da proposição aos sacerdotes (Levítico 24:9), a extrema necessidade humana invalidava este regulamento. (Marcos 2:25,26).
Jesus se referiu às Escrituras dando uma ilustração diferente da vida de Davi. Se Davi pôde, em uma emergência, fazer o que era ilícito, porque Ele não podia?

Assim, Jesus ressalta que a condenação e o juízo da Lei não prevalecem diante da misericórdia e do amor. Assim como Davi estava em necessidade e teve fome, e comeu os pães da proposição, dos quais não era lícito para ele comer, os discípulos de Jesus também estavam com fome num sábado (Mateus 12:1), e colheram as espigas para saciar a fome a despeito da proibição da Lei quanto ao sábado.

Isto nos mostra que a necessidade do homem está acima da fria obediência da letra da Lei, e neste caso a violação da Lei é isenta de culpa (Mateus 12:5). Jesus ratifica este conceito quando expõe um novo princípio: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.” (Marcos 2:27).

Do mesmo modo, a Lei foi feita por causa do homem, e não o homem por causa da Lei. Assim o Filho do homem até do sábado é Senhor (Marcos 2:28). Cristo não estava declarando sua liberdade e autoridade para violar a lei do sábado, mas antes declarava sua qualificação para interpretar corretamente a Lei sob a ótica da misericórdia.

A característica principal desta ótica encontra-se na declaração acerca de Davi: “quando estava em necessidade”. Cristo está declarando que a necessidade humana supera qualquer mero preceito ritualístico e cerimonial da Lei.

Este princípio era invertido naqueles dias pelos fariseus, e até hoje este princípio continua sendo invertido no meio do povo de Deus, porque este povo ainda tem prazer em ver o juízo triunfar sobre a misericórdia.

2- Cristo mostra que a lei do descanso sabático não era intransponível, pois dos sacerdotes se exigia pela própria lei que trabalhassem no sábado (Números 28:9,10). O argumento é, se os sacerdotes não são culpados ao trabalhar no sábado para promoção da adoração no templo, quanto menos culpa têm os discípulos em usar o sábado para a obra de Cristo, que é a realidade espiritual para a qual o Templo apontava.

E Jesus termina dizendo: “Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo.” (Mateus 12:6). Cristo não estava declarando sua liberdade e autoridade para violar o templo, mas antes declarava sua perfeita qualificação para ensinar acerca da Lei sob a ótica da misericórdia.

3- Após se identificar como Senhor do sábado, Cristo afirmou que os fariseus não conheciam a vontade de Deus e nem o seu imenso amor: “Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes.” Mateus 12:7)

Vejam que após admitir que seus discípulos “violaram” o sábado, Jesus afirmou que os fariseus não sabiam interpretar a Lei, e, por conseguinte, condenavam inocentes porque não sabiam discernir o sentido em que Deus quer misericórdia, e não sacrifício. 

Mas, por quê inocentes precisariam de misericórdia? Não eram inocentes por não violarem a lei, mas eram inocentes por violarem a lei numa necessidade emergente. 

O sacrifício neste contexto poderia estar ligado à passagem anterior acerca do jejum (Marcos 2:18-23 e Lucas 5:33-39). Mas, refere-se também ao fato de que, por ser um sábado, os discípulos não poderiam colher as espigas a despeito deles estarem com fome, e de ter as espigas prontas para serem colhidas na seara a sua frente. E, isto com certeza seria um enorme sacrifício.

O que Jesus condena é o fato de alguém com fome e tendo a comida na seara, se sacrificar deixando de comer para obedecer a um preceito frio da Lei. Jesus afirma que Deus não quer isto, e diz que quem pensa assim não entendeu a mensagem de Deus quando disse: “Misericórdia quero, e não sacrifício”.

III.    FAZER O BEM ESTÁ ACIMA DA OBSERVÂNCIA DA LEI?

“Então Jesus lhes disse: Uma coisa vos hei de perguntar: É lícito nos sábados fazer bem, ou fazer mal? salvar a vida, ou matar?” Lucas 6:9

Mas, Jesus segue adiante com os seus discípulos, e noutro sábado foram à sinagoga, onde estava um homem que tinha uma das mãos mirrada; e os fariseus, para o acusarem, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados? (Mateus 12:9,10).

A resposta de Jesus demonstra bem o que é a misericórdia triunfar sobre o juízo: “Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela, e a levantará? Pois, quanto mais vale um homem do que uma ovelha? É, por consequência, lícito fazer bem nos sábados.” (Mateus 12:11,12).

Na graça, todas as coisas nos são lícitas, e algumas não nos convém (1 Coríntios 10:23). Mas, o que não convém é matéria de conveniência, e não de ilicitude. Assim, até mesmo a mentira pode ser justificada como um ato de misericórdia. Ou não é lícito nos sábados fazer bem?

Qual dentre vós seria o homem que sabendo a localização de um amigo, e ao ser questionado pelos homens que querem mata-lo, contaria aos assassinos onde está o amigo somente para não proferir uma mentira? Pois, quanto mais vale a misericórdia de preservar uma vida do que a obediência à letra fria da Lei?

IV.    A PRUDÊNCIA E A NECESSIDADE HUMANA

“E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz. Lucas16:8

A parábola do mordomo infiel (Lucas 16:1-11) traz uma mensagem espiritual grandiosa, pois mostra um mordomo ciente que seria demitido por má gestão do patrimônio do patrão, e que decide, por conta própria, dar generosos descontos aos empresários que deviam ao seu patrão, visando obter um novo emprego por meio da gratidão daqueles empresários aos quais ele concedeu generosos descontos.

O patrão daquele mordomo foi prejudicado pela sua atitude, mas o patrão da parábola elogiou o mordomo infiel. Ainda que o senhor daquele mordomo não aprovasse seu procedimento, não pôde deixar de admirar seu recurso, ao qual chamou de prudente.

E Jesus, que é representado na parábola pelo patrão, complementa: “porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz.” (Lucas 16:8).

O que Jesus definiu como prudente foi uma atitude ardilosa do mordomo. Mas, o mordomo agiu de forma ardilosa como prudência para evitar ficar desempregado e vir a passar necessidade como Davi com os pães da proposição do templo, e como os discípulos de Jesus na seara.

Assim, não é só a necessidade humana que supera toda a frieza dos preceitos da Lei, mas também algo que possa vir a nos colocar em necessidade está semelhantemente acima toda a frieza dos preceitos da Lei. E o mordomo foi elogiado e por agir ardilosamente e por prudentemente antever que a sua demissão o colocaria em estado de necessidade humana, pois nem mesmo de mendigar ele poderia viver.

Muitos de nós Já ouvimos muitos crentes dizendo que não obedeceram ao chefe quando  este os mandou mentir dizendo que não estava presente. Contudo, desobedecer ao chefe também é pecado, assim como mentir. Falta prudência a estes crentes, pois serão demitidos e colocarão a família em dificuldades. De fato, os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz.

V.    A LIÇÃO ESPIRITUAL GRANDIOSA

Leia com atenção as palavras de Jesus a seguir:

“E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?”  (Lucas 16:9-12).

Por meio das riquezas de origem iníqua fazei amigos, disse Jesus. Aqui riquezas é a tradução de mamom, a palavra aramaica que significa dinheiro ou propriedades. O mordomo infiel sabia que ele ganhara a gratidão daqueles empresários cujas contas ardilosamente ele reduziu o valor que era devido ao seu patrão. Eles apreciariam o alívio financeiro e estariam prontos a ajudá-lo. O Senhor Jesus deu a entender que as propriedades terrenas podem ser usadas para ajudarmos os outros, cuja gratidão nos garantirá boas-vindas na eternidade. E que aqueles que não se tornam fiéis nas riquezas injustas, ninguém lhes confiará as riquezas verdadeiras. Neste contexto, o uso dos bens materiais é um teste de caráter. Aqueles que não podem usá-los com sabedoria não merecem ter responsabilidades espirituais.E, sabedoria aqui neste contexto nada mais é do que prudência, esperteza, astúcia e ardil.

Eu disse anteriormente que a parábola do mordomo infiel traz uma mensagem espiritual grandiosa acerca da graça, do perdão, do amor e da misericórdia.

Muitos não têm misericórdia daqueles que consideramos pecadores, e praguejam juízos temporais e eternos sobre a vida daqueles com pecados mais evidentes. E ainda acusamos de acobertadores de pecados  àqueles que agem com misericórdia para com os pecadores.

Esta parábola do mordomo infiel muito nos ensina acerca do dia terrível do juízo. E Jesus advertia com essa parábola, que neste dia daremos conta da administração de nossas vidas e das nossas relações com nosso próximo. Todos enfrentaremos o juízo divino. A verdade é que ninguém é perfeito. Todos cometemos erros nas nossas ações e nas nossas relações com Deus (o patrão) e com o próximo (os empresários). Certamente cada ser humano será achado em falta neste juízo.

Falhamos em tudo que recebemos de Deus para ser e para fazer, e erramos em nossos julgamentos morais e existenciais. Falhamos desde a administração da nossa inteligência, da nossa energia e da nossa criatividade até no uso dos talentos que recebemos para usar a serviço do reino. Ao contrário, muitas vezes buscamos fazer a nossa própria vontade, e satisfazer nossos desejos carnais.

De forma que, ao passar pelo minucioso exame divino, se apelarmos para nossas obras, fidelidade, santidade e obediência, seremos certamente achados em falta. Quem poderá subsistir ao juízo divino? (Salmos 130:3,4).

Assim, quando chegar o dia de prestação de contas, se chegarmos diante de Deus apresentando o padrão relacional humano, onde as relações são regidas pelos binômios custo x benefício, créditos x débitos, erros x acertos existenciais, apelando para o que fizemos de certo ou errado, seremos nada mais que mordomos infiéis e condenados.

O mordomo infiel da parábola tem a revelação dessa contabilidade existencial mesquinha, tão usada no cotidiano dos homens. E ele percebeu que se fosse julgado com essa perspectiva de erros e acertos, de créditos e débitos, ele não sobreviveria ao absoluto juízo do seu Senhor.

Ele entende que suas ações tinham que expressar algo que ia além daquela simples e fria matemática. De modo que, o mordomo infiel se apressa a relativizar suas contas, e suaviza também as dívidas daqueles que as tinham com seu patrão, de acordo com os padrões da graça e da misericórdia.

Quem sabe que é pecador e tem consciência de que é apenas um mordomo infiel dos bens do Senhor, sabe que um dia prestará contas ao Senhor, e assim passa a suavizar com a misericórdia todos os seus vereditos, sentenças e juízo de valor acerca do próximo.

Daí, o mordomo infiel manda chamar todos os devedores do seu patrão. E começa uma nova conta, suavizada, que vai além da matemática fria, que vai além de débitos e crédito, que vai muito além de erros e acertos, se achegando à graça e à misericórdia.

O mordomo infiel sabia que precisava de um julgamento baseado não em erros e acertos, mas baseado na graça de Deus, e ele começa a distribuir graça e perdão. Ele muda a forma como as dívidas eram vistas e cobradas. Ele passa a agraciar os seus julgamentos e sentenças. Ele compreende assim os parâmetros do reino de Deus.

Ele entendeu que a graça, o perdão e a gratidão eram infinitamente superiores, e fariam mais diferença na hora do juízo, do que a tentativa de exigir que os devedores de seu Senhor pagassem tudo o que deviam conforme constava nas papeletas. Mas, ele cancela os escritos de dívidas que eram prejudiciais àqueles devedores, e reescreve com misericórdia.

É assim, um lindo e maravilhoso ensinamento de Jesus, o Mestre dos Mestres!
Quem reconhece que tem falhas, passa imediatamente a suavizar os seus julgamentos acerca do próximo, e muda os parâmetros de erros e acertos, de dívidas e pagamentos, para os parâmetros do perdão e da graça, no qual, a misericórdia triunfa sobre o juízo!
  
CONCLUSÃO

O pastor Antônio de Souza Oliveira faleceu aos 85 anos no fim de 2015, ao escorregar e bater a cabeça numa pilastra quando, sozinho, limpava a caixa d’água do prédio da Assembleia de Deus de Bento Ribeiro no Rio de Janeiro. Assim, este pastor teve atendido por Deus o seu pedido para morrer na igreja trabalhando na obra do Senhor. E foi assim numa manhã de sábado.
Este artigo é uma homenagem póstuma a este servo do Senhor.


“O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” 2 Coríntios 3:6


  Marcos Alexandre Damazio